God of War, 2005:
O jogo começa no meio da tempestade; o navio do jogador está a ser atacado por uma hidra; nos primeiros 10 minutos de jogo, o jogador confrontou e matou uma das criaturas mais famosas da mitologia grega.
God of War, 2018:
O jogo começa com um funeral. Nos primeiros 10 minutos, o jogador confronta e mata um trio de inimigos banais, que parecem arrancados do último episódio d’ A Guerra dos Tronos.
God of War, 2005:
Os gráficos eram bons para a época; hoje estão datados, mas ainda têm um certo charme. A câmara panorâmica dá uma boa sensação da escala épica do mundo.
God of War, 2018:
É possivelmente o jogo mais bonito que alguma vez joguei. A fidelidade visual é um verdadeiro tour de force para exibir as televisões 4K. A iluminação em HDR faz os olhos doer se olharmos directamente para o Sol. Os detalhes são impressionantes, cada milimetro de cenário, de pele das personagens, cada fibra das armaduras… Parece único e real.
God of War, 2005:
À medida que o jogo progride, vamos confrontando e derrotando bestas míticas do folklore grego, culminando com um confronto final com Ares, o titular Deus da Guerra. A nossa personagem é feita gigante, e ambos os titãs combatem amiúde uma cidade em chamas cujos edifícios lhes dão pelos calcanhares. Nesta batalha final, o jogador tem que aplicar todas as técnicas e habilidades com que se foi familiarizando ao longo do jogo.
God of War, 2018:
Com um par de excepções, todos os bosses são repetições dos bosses encontrados nas primeiras 2 horas de jogo. O confronto final é contra um deus que será quase desconhecido para todos os que não tiverem uma familiaridade mais intima com o panteão escandinavo – e não mais que uma versão “apimentada” de um confronto decorrido nas primeiras horas de jogo. Esta batalha final é trivialmente simples se o jogador tiver dedicado algumas horas a explorar o mundo e recolher equipamento melhor.
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God of War (2005) foi um jogo feito com um orçamento modesto, e que sofria das limitações técnicas da altura. Mas impressionava a cada hora, mostrando-se a cada passo mais ambicioso, mais capaz de surpreender, mais épico. Este é um jogo que jogou com o baralho todo, sem dar tréguas, na ambição única de proporcionar ao jogador o maior êxtase possível.
God of War (2018) é um jogo que terá custado mais a produzir do que o PIB de alguns países Africanos. É o zénite da fidelidade gráfica e sonora da industria, e conta com fantásticas performances de actuação digital. Mas descarrega quase todos os seus canhões criativos no primeiro par de horas, e a partir daí, é trabalho. É um jogo que repete todos os seus momentos impressionantes até os tornar banais, e que parece ter medo de usar toda a matéria-prima que a mitologia escandinava lhe proporciona, já a pensar no que terá que guardar para a obrigatória sequela.
God of War (2005) não é o melhor jogo da geração, nem da consola que o viu nascer, nem mesmo do género de acção a que pretence. Mas é um produto de entretenimento, e deu tudo por tudo para entreter.
Foi feito para ti.
God of War (2018) foi classificado por muitos como o melhor jogo do ano em que saiu, e por outros tantos como o segundo melhor. Mas é um produto industrial, e só entretém na medida em que é necessário entreter.
Foi feito para as pessoas que o fizeram, para as pessoas que pagaram para ele ser feito, para as pessoas que o iam analisar. Tu?
Tu nem chegaste ao terceiro lugar.